
Deixou cair a cabeça nas mãos, que nem uma ave ferida de encontro com a dura terra. Parou, susteve a respiração e como um gesto mecânico acendeu mais um cigarro. Procurou fugir à luz que dava vida e alimentaria temporariamente o vício. Vício este em que escondia a verdadeira razão do tão desejado gesto mecânico que vezes sem conta fazia sem ver passar o tempo.
Não levantou o olhar do chão, mas sentia o mundo que o rodeava, via as pessoas a passar, todas com o seu propósito, todas com a sua missão, outras sabia-as sentadas, no decurso de longos bancos de madeira gasta pelo tempo que ali estagnava em parcos sentidos de uma realidade alheia à sua compreensão.
Sabia-se cansado, doido, quase como morto, mas jamais ergueu o olhar do chão. Encarava antes a dura realidade com o puxar dos pulmões em gestos tremidos mas certeiros.
Uma voz longe parecia querer traze-lo de volta, mas um qualquer dialecto parecia-lhe estranho e ausente de sentido naquele momento.
Deixou o cigarro consumir-se em fumo, transbordando a cinza por onde calhou, e sem alguma vez erguer o olhar, soube que havia chegado o momento... iria começar...
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