terça-feira, setembro 27, 2005

"Senta-te...
Esquece o mundo que te rodeia, esquece as horas, os dias, o nascer do sol, o brutar da lua.
Senta-te no chão, e como o brutar de uma flor renasce ao som dequela voz... Daquela voz gasta pelo tempo, tremida pelos sentidos que já me falham.
Ouve bem o que ela te diz, sente o seu calor a vibrar pelo ar quieto que nos rodeia. Como se rasgasse o veu que nos separa da imortalidade.
Ela pode parecer-te cansada, triste ou apenas sonhadora, mas nada disso importa, nada disso conta, perante a loucura de um mundo que teima em trazer a si vida, a este profundo e adoçado inferno que nos engole em gestos perdidos de recreio.
Consegues ouvir-la? Consegues senti-la bem junto ao teu ser, sussurrando palavras em língua ausente de dialecto, de pronuncia, de sentido...
Ela é a voz da sabedoria...
Pena que não esteja ao alcance daqueles que se forçam a ouvir...
Ela apenas se desvenda perante quem nasce e conserva o Dom...
Quem sabe tu sejas o escolhido... quem sabe..."

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segunda-feira, setembro 19, 2005

Já é bem tarde aqui onde estou...
Não consigo dormir, e resolvi vir deixar-te algumas palavras...
Os dias parecem fugir por entre os dedos, e o sentimento de distância mantém-se tão aceso, tão vivo, que dói, que desatina dentro da alma, que nos rasga por dentro, que impera no reino aflitivo de quem tenta sorrir para esquecer a dor ferida de não te ter junto de mim…
Queria poder sentir a tua presença bem junto da minha, como a chuva na terra quando se encontram, após a derradeira viajam dos céus...
É inevitável não pensar no futuro, é difícil não pensar no dia de amanhã, e é angustiante não sentir a certeza que num desses dias os meus olhos vão poder entrar nos teus, e despir-te a alma com um simples olhar, sentir a tua respiração ofegante, num simples gesto de ternura, dilacerar o teu desejo como as aves o fazem com o vento que encaram de frente...
Onde estás? O que fazes?... Talvez a pergunta mais correcta será onde estou?...
Dizem que a vida é bela demais para ser desperdiçada em ninharias. Dizem que é preciso olhar para além da dor, é preciso ver com olhos de ver e senti-la...
Entregar-me-ia a ela, se conseguisse, de corpo e alma, confundiria os meus sentimentos com todo o universo. Contemplaria o azul calmo, profundo e fluido do mar, o brilho amigável e reconfortante das estrelas, a luz misteriosa e enigmática, sorveria a alegria contagiante do sol, o perfume das flores molhadas do orvalho da madrugada.
Há beleza em tudo isso, há vida, há sentimento, basta olharmos em volta... ou simplesmente fecharmos os olhos e deixarmos que os sons da vida nos invada...
Tamanha beleza só pode ter sido pintada, em gestos delicados pelas mãos do Criador...
Tamanha verdade só pode um dia ter sido proferida pelos lábios de quem ama acima de tudo aquilo que o rodeia, que nem poesia...
Todo isso nos é oferecido todos os dias da nossa vida... somos contemplados com tão grande bênção...
É um milagre não achas?
Uma dadiva? Não devíamos trocar isso por nada deste mundo, não concordas?

Só há algo que eu não compreendo... porque que sinto... porque que sei... porque que tenho a certeza que trocaria tudo... tudo isso, ou até muito mais, só para te ter junto de mim... para ter o teu amor, para mim... para me unir a ti pelos laços de toda a eternidade...

domingo, setembro 18, 2005

Em primeiro lugar tenho que agradecer à Laura que me deu coragem de vir ate aqui escrever...
E assim, cá vai o meu primeiro texto...
"Quem Sabe...
Quem sabe se sou eu que escrevo, ou se o é, esta vontade louca que me comanda a alma em gestos de agonia…
Deixo o corpo cair sobre a folha de papel, e traço riscos de tinta como se de rasgos na minha pele se tratassem… cada palavra é um sentido de dor, pois são palavras que contenho a custo e deixo perdidas num silêncio que me sufoca.
E no entanto sinto que são palavras tão belas as que te queria dizer…
Desisto, insisto, volto a desistir. É difícil para mim escrever algo que sei que esta destinado ao fundo daquela gaveta que já contem tantas outras folhas de papel já amarelado pelo tempo, onde como hoje, gritei calado os meus sentidos…
Sei o que tenho de fazer, já o fiz vezes sem conta, mas enquanto não o sentir cá dentro, temo que me arraste cada vez mais fundo neste poço que cavei com as minhas próprias mãos…
Deixo a “palavra” rasgar o ar em ternos movimentos irregulares, quando a digo para mim mesmo em doce pranto. Vezes há que não me canso de a repetir uma e outra vez e mais outra e outra. Mas a, agora amaldiçoada, esperança, que teima em reinar neste já cansado coração, continua tão presente e inabalável…
Talvez não seja eu que a deva proferir, mas sim tu… tu que te deixas-te ficar em profundo silêncio, que alimentou mais ainda o meu sonho…
Tu que me envolves-te neste doce estado que transforma o sangue das minhas veias numa energética corrente onde o fluir é mágico, e que me corta a respiração, e deixa-me como que despido e só num mundo de dor…
E tudo o que preciso é apenas dizer a palavra… mas onde? Onde esta a coragem?
Quem sabe se um dia…
Simplesmente quem sabe…"