sexta-feira, agosto 10, 2007


Estava sentado, mas sentia-se a flutuar. Aquelas palavras gritantes perfuravam o ar como que punhais que atingiam o seu ser.

Uma verdade escondida e ignorada era exposta sem dó nem piedade... revelando factos que tiveram lugar num dia, numa hora, num minuto e ignorados por tantas mentes e sentidos dos que vagueiam por estradas fora perdidos no quotidiano mortal que nos rodeia.

A cor pálida tomou-lhe o rosto, o sangue fervia enjoado, revoltado, incrédulo perante tamanhas barbaridades, e sabia porque estava ali, o que tinha de fazer, as palavras que usaria, as fugas...

Olhava em redor e nada via... sentia a presença, naquela sala que encolhia a cada palavra proferida, de gentes que faziam o seu trabalho, de gentes que impávidos presenciavam aquele momento como se de um ritual banal se tratasse...

Sentia-se pequeno, inútil até, não perante a papel que ali desempenhava, mas perante a inutilidade de quem ignora a vida perversa que se esconde a cada canto de tantos seres.

Sentia-se perdido... vazio... e foi invadido por uma vontade louca de fugir dali, de poder respirar, sentir o vento bater-lhe no rosto.

Alguém falou para si, lembra-se de anuir levemente com o rosto, só queria poder sair dali e qualquer desculpa era legitima.

Saiu, conseguiu finalmente respirar. Passou água pelo rosto para inutilmente aliviar a angustia que o enforcava. Olhou-se no espelho, viu os seus olhos que mudavam de cor tentando esconder a emoção.

Caiu em si, respirou fundo, e pensou: "é o meu trabalho, é aquilo que faço e que se espera de mim... não sou eu..."

Etiquetas: , , ,